domingo, 11 de novembro de 2012

Questões - Prova "P" - Português - Parte 1

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


TEXTO 1
“O navio negreiro”
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.
(Castro Alves)
TEXTO 2
7”
Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.
(Mário de Sá-Carneiro)
TEXTO 3
“Os arredores florem”
Os arredores florem:
figos, nervos, libélulas
a criarem nas águas
os brevíssimos movimentos.
(Paulo Roberto Sodré)




1. (Ufes 2012)  Leia os textos e faça o que se pede:


a) Escolha um dos textos (“O navio negreiro”; “7”; “Os arredores florem”), indique e explique a ocorrência de um dos seguintes aspectos: som (aliteração, assonância, paronomásia, etc.), sentido (metáfora, alegoria, ironia, etc.), ritmo (rima, métrica, tonicidade, etc.) ou representação (imagem, descrição, comparação, etc.).

b) Nos três versos iniciais do trecho de “O navio negreiro” (TEXTO 1), o sujeito do enunciado é “o sangue das mães”. Reescreva, em prosa, esses versos, iniciando o período com “O sangue das mães”, fazendo as adaptações que o texto requer e mantendo o sentido do texto original.

  

2. (Ufes 2012)  Com base nos elementos constitutivos do ato de comunicação, Roman Jakobson estabeleceu seis funções da linguagem (e a ênfase de cada uma delas): referencial (ênfase no assunto; no conteúdo), emotiva (ênfase no emissor; no sujeito), conativa (ênfase no receptor; no interlocutor), poética (ênfase na forma; na construção), metalinguística (ênfase no código; na autorreferência) e fática (ênfase no canal; no contato).

Escolha um dos textos, indique e explique a ocorrência de uma dessas funções.

  

3. (Unifesp 2009)  Leia os versos de Cruz e Sousa.


Ó meu Amor, que já morreste,

Ó meu Amor, que morta estás!

Lá nessa cova a que desceste

Ó meu Amor, que já morreste,

Ah! nunca mais florescerás?

Ao teu esquálido esqueleto,

Que tinha outrora de uma flor

A graça e o encanto do amuleto

Ao teu esquálido esqueleto

Não voltará novo esplendor?


a) Identifique no poema dois aspectos que remetem ao Romantismo.

b) Exemplifique, valendo-se de elementos textuais, por que, em certa medida, os poetas simbolistas, como Cruz e Souza, se aproximam dos parnasianos.

  

4. (Unicamp 2009)  Carlos Drummond de Andrade reescreve a famosa "Canção do exílio" de Gonçalves Dias, na qual o poeta romântico idealiza a terra natal distante.


Nova canção do exílio

À Josué Montello


Um sabiá

na palmeira, longe.

Estas aves cantam

um outro canto.


O céu cintila

sobre flores úmidas.

Vozes na mata,

e o maior amor.


Só, na noite,

seria feliz:

um sabiá,

na palmeira, longe.


Onde tudo é belo

e fantástico,

só, na noite,

seria feliz.

(Um sabiá,

na palmeira, longe.)


Ainda um grito de vida

voltar

para onde tudo é belo

e fantástico:

a palmeira, o sabiá,

o longe.

            ("A rosa do povo", em Carlos Drummond de Andrade, "Poesia e Prosa". Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988, p.117.)

a) Além de expatriação, a palavra exílio significa também "lugar longínquo" e "isolamento do convívio social". Quais palavras expressam estes dois últimos significados no poema de Drummond?

b) Como o eu lírico imagina o lugar para onde quer voltar?


TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

TEXTO II


A dança dos ossos


A noite, límpida e calma, tinha sucedido a uma tarde de pavorosa tormenta, nas profundas e vastas florestas que bordam as margens do Paranaíba, nos limites entre as províncias de Minas e de Goiás.

Eu viajava por esses lugares, e acabava de chegar ao porto, ou recebedoria, que há entre as duas províncias. Antes de entrar na mata, a tempestade tinha me surpreendido nas vastas e risonhas campinas que se estendem até a pequena cidade de Catalão, donde eu havia partido.

Seriam nove a dez horas da noite; junto a um fogo aceso defronte da porta da pequena casa da recebedoria, estava eu, com mais algumas pessoas, aquecendo os membros resfriados pelo terrível banho que a meu pesar tomara. A alguns passos de nós se desdobrava o largo veio do rio, refletindo em uma chispa retorcida, como uma serpente de fogo, o clarão avermelhado da fogueira. Por trás de nós estavam os cercados e as casinhas dos poucos habitantes desse lugar, e, por trás dessas casinhas, estendiam-se as florestas sem fim.

No meio do silêncio geral e profundo sobressaía o rugido monótono de uma cachoeira próxima, que

ora 1estrugia como se estivesse a alguns passos de distância, ora quase se 2esvaecia em abafados murmúrios, conforme o correr da viração.

4No sertão, ao cair da noite, todos tratam de dormir, como os passarinhos. As trevas e o silêncio são sagrados ao sono, que é o silêncio da alma.

5Só o homem nas grandes cidades, o tigre nas florestas, o 3mocho nas ruínas, as estrelas no céu e o gênio na solidão do gabinete costumam velar nessas horas que a natureza consagra ao repouso.

Entretanto, eu e meus companheiros, sem pertencer a nenhuma dessas classes, por uma exceção de regra estávamos acordados a essas horas.

Meus companheiros eram bons e robustos caboclos, dessa raça semisselvática e nômade, de origem dúbia entre o indígena e o africano, que vagueia pelas infindas florestas que correm ao longo do Paranaíba, e cujos nomes, decerto, não se acham inscritos nos assentos das freguesias, e nem figuram nas estatísticas que dão ao império... não sei quantos milhões de habitantes.


BERNARDO GUIMARÃES

TUFANO, Douglas (org.) Antologia do conto brasileiro. Do Romantismo ao

Modernismo. São Paulo: Moderna, 2005.


Vocabulário:

ref. 1: estrugia – vibrava fortemente

ref. 2: esvaecia – desfalecia

ref. 3: mocho – coruja



5. (Uerj 2009)  No texto II, Bernardo Guimarães emprega diferentes figuras de linguagem.

Observe o fragmento:

“No sertão, ao cair da noite, todos tratam de dormir, como os passarinhos. As trevas e o silêncio são sagrados ao sono, que é o silêncio da alma.” (ref. 4)

Retire desse fragmento uma figura de linguagem, nomeando-a. Explique também a relação entre o emprego dessa figura e a estética romântica.


TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:

TEXTO 1


            A primeira vez que vim ao Rio de Janeiro foi em 1855.

            Poucos dias depois da minha chegada, um amigo e companheiro de infância, o Dr. Sá, levou-me à festa da Glória; uma das poucas festas populares da corte. Conforme o costume, a grande romaria desfilando pela Rua da Lapa e ao longo do cais serpejava nas faldas do outeiro e apinhava-se em torno da poética ermida, cujo âmbito regurgitava com a multidão do povo.

            Era ave-maria quando chegamos ao adro; perdida a esperança de romper a mole de gente que murava cada uma das portas da igreja, nos resignamos a gozar da fresca viração que vinha do mar, contemplando o delicioso panorama da baía e admirando ou criticando as devotas que também tinham chegado tarde e pareciam satisfeitas com a exibição de seus adornos.

            Enquanto Sá era disputado pelos numerosos amigos e conhecidos, gozava eu da minha tranquila e independente obscuridade, sentado comodamente sobre a pequena muralha e resolvido a estabelecer ali o meu observatório. Para um provinciano lançado recém-lançado-chegado à corte, que melhor festa do que ver passar-lhe pelos olhos, à doce luz da tarde, uma parte da população desta grande cidade, com os seus vários matizes e infinitas gradações?

            Todas as raças, desde o caucasiano sem mescla até o africano puro; todas as posições, desde as ilustrações da política, da fortuna ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido; todas as profissões, desde o banqueiro até o mendigo; finalmente, todos os tipos grotescos da sociedade brasileira, desde a arrogante nulidade até a vil lisonja, desfilaram em face de mim, roçando a seda e a casimira pela baeta ou pelo algodão, misturando os perfumes delicados às impuras exalações, o fumo aromático do havana às acres baforadas do cigarro de palha.

ALENCAR, José de. Lucíola. São Paulo: Editora Ática, 1988, p. 12.



TEXTO 2


            Quando a manhã chuvosa nasceu, as pessoas que passavam para o trabalho se aproximavam dos corpos para ver se eram conhecidos, seguiam em frente. Lá pelas nove horas, Cabeça de Nós Todo, que entrara de serviço às sete e trinta, foi ver o corpo do ladrão. Ao retirar o lençol de cima do cadáver, concluiu: "É bandido". O defunto tinha duas tatuagens, a do braço esquerdo era uma mulher de pernas abertas e olhos fechados, a do direito, são Jorge guerreiro. E, ainda, calçava chinelo Charlote, vestia calça boquinha, camiseta de linha colorida confeccionada por presidiários. Porém, quando apontou na extremidade direita da praça da Quadra Quinze, em seu coração de policial, nos passos que lhe apresentavam a imagem do corpo de Francisco, um nervosismo brando foi num crescente ininterrupto até virar desespero absoluto. O presunto era de um trabalhador.

LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 55-56.




6. (Puc-rio 2008)  a) O romance "Lucíola", publicado em 1862, é considerado uma das mais importantes obras de José de Alencar. Cite TRÊS aspectos que marcam o estilo de época a que se filia o autor, tendo como referência o fragmento selecionado.

b) Os Textos 1 e 2 são narrativas urbanas que têm como cenário o Rio de Janeiro. Compare os trechos dos dois romances anteriormente transcritos, estabelecendo diferenças em relação à percepção da cidade e suas personagens e à linguagem utilizada pelos respectivos autores.

  

7. (Puc-rio 2008)  a) No último parágrafo do Texto 1, Alencar contrasta a seda e o algodão, o havana e o cigarro de palha. Explique a natureza

desse contraste explicitando conotações associáveis a tais expressões substantivas.

b) Reproduzimos a seguir um outro fragmento do livro Lucíola, de José de Alencar (um diálogo entre os personagens Paulo e Sá).


- Quem é esta senhora? perguntei a Sá. [...]

- NÃO É UMA SENHORA, PAULO! É UMA MULHER BONITA. QUERES CONHECÊ-LA?


Transforme em discurso indireto a frase destacada nesse diálogo, dando continuidade à seguinte estrutura: Paulo perguntou a Sá quem era aquela senhora. Este respondeu-lhe que ...


TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

HAPPY END

(Cacaso)


O meu amor e eu

nascemos um para o outro


agora só falta quem nos apresente.



8. (Ufrj 2008)     ADEUS, MEUS SONHOS!


            (Álvares de Azevedo)


Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!

Não levo da existência uma saudade!

E tanta vida que meu peito enchia

Morreu na minha triste mocidade!


Misérrimo! votei meus pobres dias

À sina doida de um amor sem fruto,

E minh'alma na treva agora dorme

Como um olhar que a morte envolve em luto.


Que me resta, meu Deus? morra comigo

A estrela de meus cândidos amores,

Já que não levo no meu peito morto

Um punhado sequer de murchas flores!           


O poema de Álvares de Azevedo, assim como o de Cacaso, trabalha com o par desejo/ realidade. Com base nessa afirmação, demonstre, a partir de elementos textuais, que "Adeus, meus sonhos!" constitui forte ilustração da poética da segunda geração romântica, à qual pertence o autor.

 

Gabarito:  


Resposta da questão 1:
 a) Há múltiplas possibilidades de respostas.

Em “O navio negreiro”, impacta não só a descrição triste e forte da cena, em que as crianças – magras – mamam sangue nas tetas das mães, mas também o quadro seguinte, em que outras mulheres se arrastam, melancólicas, em meio a “fantasmas”, que, na verdade, são elas mesmas e, possivelmente, o conjunto de negros escravos transportados no navio. O esquema da rima se faz em AABCCB, sendo decassílabos os versos 1, 2, 4 e 5, e hexassílabos (ou decassílabos quebrados) os versos 3 e 6. A combinação desses versos de 10 e 6 sílabas pode querer indicar o balouço do navio. Tal estrofe de seis versos se chama sextilha.

Em “7”, sobressai a metáfora acerca da constituição da subjetividade, que envolve o “eu”, o “outro” e o “Outro”. O sujeito talvez não seja nenhuma dessas “misteriosas” instâncias, mas o “intermédio”, daí a figura da “ponte”, que faria a travessia entre elas. Tal ponte, contudo, é “de tédio”, elemento característico da poética do escritor português, que se suicidou ainda bem jovem. Chama bastante a atenção o registro diferenciado entre “outro” e “Outro”, indicando, portanto, sentidos diferentes: este segundo, grafado com letra maiúscula, insinua uma dimensão metafísica, enigmática (inscrita no título: um número, o 7) de toda alteridade. A rima entre “outro” e “Outro” acentua simultaneamente a semelhança e a diversidade entre tais palavras.

Em “Os arredores florem”, destaque-se a delicada imagem construída pelo poema, que capta os “brevíssimos movimentos” de elementos da natureza, como numa dança silenciosa. Quanto ao ritmo, os três versos iniciais possuem seis sílabas poéticas, e o quarto se estende em oito sílabas: a tonicidade de cada verso (4/6; 1/3/6; 3/6; 3/8) reforça o movimento representado. Percebe-se a sutileza das rimas internas dos versos iniciais (arredOres / flOrem; nErvos / libÉlulas; criArem / Águas) e as aliterações no verso final, em /v/, /s/ e /m/. O poema se mostra como se fosse um flagrante fotográfico de uma cena, embora silenciosa, em que a vida se impõe – em que a vida está a florir.


b) Seguem-se quatro opções de resposta:

1. O sangue das mães rega as bocas pretas das magras crianças suspensas às tetas das negras mulheres.

2. O sangue das mães, negras mulheres, rega as bocas pretas das magras crianças suspensas às suas tetas (delas).

3. O sangue das mães negras mulheres, que suspendem às (suas) tetas magras crianças, rega-lhes as bocas pretas.

4. O sangue das mães negras mulheres, que suspendem magras crianças às tetas, rega-lhes as bocas pretas.  


Resposta da questão 2:
 Texto 1 – funções: referencial (informação) e poética (forma).

Texto 2 – funções: emotiva (ênfase no emissor), poética (forma) e metalinguística (definição).

Texto 3 – funções: poética (forma), referencial (informação).  


Resposta da questão 3:
 a) As temáticas do amor e da morte.


b) A formação de Cruz e Sousa foi parnasiana e, mesmo representando o Simbolismo, ainda conservava características do Parnasianismo. Neste texto, vemos o formalismo típico dos parnasianos.  


Resposta da questão 4:
 a) As palavras são: LONGE (no sentido de "lugar longínquo"), que aparece no poema como advérbio (estrofes 1, 3 e 4), e como substantivo (estrofe 5), e SÓ (sentido de "isolamento"), que aparece como adjetivo  (estrofes 3 e 4).


b) O eu lírico imagina o lugar para onde quer voltar como ideal, com aspectos positivos ligados à natureza e à emotividade.  


Resposta da questão 5:
 “é o silêncio da alma”: metáfora

Essa figura de linguagem expressa uma visão particular da natureza e do mundo, de acordo com a ênfase na subjetividade do Romantismo.  


Resposta da questão 6:
 a) O estilo de época  é o Romantismo. Alguns aspectos desse estilo presentes no fragmento do texto em questão são a descrição minuciosa a  visão subjetiva da realidade, alguns aspectos que marcam a vida em sociedade naquele momento histórico, a tensão entre a corte e a província.


b) José de Alencar  idealiza as belezas naturais da cidade e as diferenças socioeconômicas entre seus habitantes, utiliza-se de  um excessivo descritivismo, com predomínio de períodos longos e uso de adjetivação. Já Paulo Lins descreve de forma realista a cena urbana e seus conflitos socioculturais, faz uso de uma linguagem seca e econômica, com períodos  curtos e com pouco uso de adjetivos.  


Resposta da questão 7:
 a) Na referida passagem, José de Alencar explora as diferenças socioeconômicas entre os personagens da cena urbana que descreve. Utilizando-se de metonímia, a seda e o havana conotam a riqueza e o status das classes socialmente privilegiadas, enquanto o algodão e o cigarro de palha evocam a condição desfavorecida das classes populares.


b) Paulo perguntou a Sá quem era aquela senhora. Este respondeu-lhe que não se tratava de uma senhora, mas sim de uma mulher bonita. Em seguida, perguntou a ele se desejava conhecê-la.  


Resposta da questão 8:
 Características fortes da segunda geração romântica são a melancolia, o culto à morte, o pessimismo, o amor platônico, e, no poema de Álvares de Azevedo, o sonho de uma concretização amorosa desfaz-se diante de uma realidade que frustra o desejo do eu-lírico: "adeus meus sonhos, eu pranteio e morro!".  





Resumo das questões selecionadas nesta atividade


Data de elaboração:     04/11/2012 às 15:46

Nome do arquivo:        questoes luciola 2012



Legenda:

Q/Prova = número da questão na prova

Q/DB = número da questão no banco de dados do SuperPro®



Q/prova         Q/DB                Matéria               Fonte                                    Tipo


  1................. 112926............ Português.......... Ufes/2012............................. Analítica

  2................. 112927............ Português.......... Ufes/2012............................. Analítica

  3................. 86712.............. Português.......... Unifesp/2009........................ Analítica

  4................. 87084.............. Português.......... Unicamp/2009....................... Analítica

  5................. 99781.............. Português.......... Uerj/2009.............................. Analítica

  6................. 77247.............. Português.......... Puc-rio/2008......................... Analítica

  7................. 77249.............. Português.......... Puc-rio/2008......................... Analítica

  8................. 77235.............. Português.......... Ufrj/2008............................... Analítica

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